Cobrinhas no Museu de História Natural de Viena por Gisela Gueiros

Cobrinhas no Museu de História Natural de Viena por Gisela Gueiros

Jul 18, 2025

Gisela Gueiros é curadora, escritora e guia de arte radicada em Nova York há 18 anos. Nascida no Brasil, mudou-se para a cidade para estudar e trabalhar com arte, e desde então construiu uma trajetória que une conhecimento, sensibilidade e olhar apurado. É fundadora da galeria itinerante Gisela Projects, conduz visitas guiadas pelas principais galerias de Manhattan e escreve a newsletter Gisela’s Hottest Takes, onde compartilha reflexões sobre arte, cultura e o cotidiano nova-iorquino — e agora, compartilha um pouco das suas vivências aqui no Savoir.

 

Entre levar um filho pra Finlândia e buscar outro na Islândia, fui passar 4 dias em Viena, onde mora uma das minhas melhores amigas. Nas duas últimas vezes que fui à terra de Freud, eu tinha 20 e poucos anos e adorei ter revisitado a cidade agora — do alto dos meus quarenta e tantos hehe! Talvez Viena seja uma dessas cidades que vão ficando melhores conforme a gente amadurece 😊 

1) Fui praticamente direto do aeroporto para o icônico Kunst Historisches Museum — ou Museu de História da Arte. É clássico atrás de clássico — Rembrandt, Cranach, Dürer, Holbein, Vermeer… e uma sala toda dedicada ao meu querido Bruegel (incluindo a Torre de Babel). Aqui em NY estou mal-acostumada por conta do Metropolitan Museum, mas o KHM é chocante! 

O teto, o chão, os postais na lojinha e 3 dos vários Bruegels divinos que moram lá 

2) Outro hit de Viena é o museu Belvedere e seu belíssimo jardim. Quando visitei em 2002, meu foco da viagem era conhecer de perto “O Beijo” do Klimt, que fica lá. Dessa vez, me liguei muito mais na Maria Lassnig — artista austríaca que amo, morta em 2014. Beleza pura! 

3) Nessa viagem, meu alvo era conhecer a Vênus de Willendorf — a obra de arte mais antiga de que se tem registro no mundo — a estatueta foi encontrada em 1908 na Áustria e é datada de mais de 29.500 anos atrás, considerada uma das maiores descobertas da arqueologia. A Vênus fica no Museu de História Natural e ganhou de vez o meu coração — conseguindo ser menor do que eu imaginava (e eu já a imaginava minúscula!).

 Tamanho não é documento (nas artes, ao menos) e a Vênus ganhou meu coração! 

4) Já no Leopold Museum o que me chamou a atenção foram os designers e arquitetos. Loos, Hoffman, Tonet… Clássicos dos mobiliários do fim do século 19/começo do século 20. 

Super “teria” esse quartinho do Josef Hoffmann! Uma das cadeiras mais replicadas do mundo, de Gebrüder Thonet.

 


5) Também quis passar no Secession Building— que apesar de “pequeno” merece a visita por conta do mural do Gustav Klimt, um dos fundadores da associação de artistas. A Secessão de Viena (1897-1920) foi fundada por pintores e arquitetos liderados por Klimt para protestar contra as tradições da arte da época, a ideia era organizar exposições independentes, com curadoria dos próprios artistas. 

E na casa/museu do Hunderwasser, que eu lembrava de ter amado quando vi a primeira vez nos anos 90. Meu pai estava em Viena a trabalho e eu fui acompanhá-lo, enquanto ele fazia reuniões, uma pessoa da empresa me acompanhou por um dia turístico pela cidade (eu devia ter uns 16 anos), e achei Hundertwasser o máximo. De novo, é legal ver como nosso gosto muda e apesar de eu ter amado revê-lo, ele está longe de ser o artista que mais me emocionou nessa viagem. Por sinal, o andar que mais gostei tinha uma expo dedicada à artista Mika Rottenberg.  

 

A fachada do museu, uma pintura de Hundertwasser e os trabalhos de Mika Rottenberg, ambos divertidos. 

 

6) Enquanto caminhava até a casa/consultório de Sigmund Freud, passei pela Looshaus (1912) — um ícone da arquitetura moderna austríaca. Numa cidade em que tudo parece ter pelo menos 150 anos de idade, é um refresco para os olhos :) (quanto à casa do Freud, achei mais legal o museu de Londres). 


7) A casa da minha amiga — onde me hospedei — fica um pouco afastada do centro e, perto dela, visitamos a Villa do arquiteto Otto Wagner que foi abandonada depois da Segunda Guerra e restaurada pelo artista Ernst Fuchs. Da turma que usava ópio para trabalhar:   

 

Também perto da casa da minha amiga visitamos o Schönbrunn Palace — antigo palácio dos Habsburgs, onde viveu a Imperatriz Siri (quem viu a série na Netflix?). Fomos lá bem cedinho para caminhar. Delícia de programa! 

 

8) A melhor surpresa da viagem foi o MAK Museum, o museu de artes aplicadas. Deixei para o último dia sem saber direito do que se tratava, e adorei! Logo no saguão já dei de cara com uma versão colossal do divão do Freud. Além de homenagear o pai da psicanálise, o trabalho também fazia referência aos “72 Divãs”, do artista austríaco Franz West, que reunia dezenas de réplicas do divã de Freud em praça pública na Documenta de Kassel de 1992.   

Gelatin, “Sofa”, 2019. 

Além de uma exposição sobre cerâmica, outra sobre água e várias sobre design, havia uma mostra sobre pôsteres, uma sobre cadeiras austríacas e outra sobre kimonos japoneses. Quase morri 😊 

No caminho para o museu ainda me deparei com a loja de antiguidades de Jakob Weichhart (endereço: Untere Viaduktgasse, 59) e arrematei um abajur hahaha (estou torcendo para que chegue intacto, pelo correio): 

9) Para os programas noturnos, fomos ver uma homenagem a Mozart (onde todos os músicos estavam a caráter!) e, no dia seguinte, dois balés da Pina Bausch — incluindo Café Müller. Coisa fina! 



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