Estou escrevendo o meu livro à mão por Luanda Vieira

Estou escrevendo o meu livro à mão por Luanda Vieira

Feb 20, 2025Disco

O Savoir apresenta uma nova edita: MHSTUDIOS EXPLORERS e nossa primeira convidada é Luanda Vieira. A jornalista e podcaster compartilhou conosco o processo de escrita do seu primeiro livro, escrito em um Mission Notebook. 


Demorei muito tempo para conseguir ser uma mulher livre. Eu não falava o que eu sentia, não me permitia ser vulnerável, tinha medo de me posicionar. A verdade é que eu sempre quis agradar sem saber que o que realmente agrada é a espontaneidade, seja ela qual for. A minha não é espalhafatosa, ainda que expansiva. Hoje, tudo isso reflete na minha escrita, parte da minha profissão que mais tenho carinho e cuidado. Aliás, o meu nome é Luanda Vieira, tenho 36 anos e trabalho como jornalista, criadora de conteúdo e, em breve, acrescentarei escritora ao meu currículo.

 

 

Tenho um amor profundo pelas palavras; um respeito inquestionável. É justamente por isso que as sinto presas na tela; e poeticamente livres no papel. Então decidi escrever o meu livro à mão no meio do processo porque, além de tudo, eu também quero que essa história seja verdadeiramente leve e solta no mundo, embora dura. Estou escrevendo uma autoficção sobre coragem: a de seguir, a de persistir, a de desistir. Tem que ter coragem, sobretudo, para não deixar de sonhar. 

 

 

Sempre senti a minha mão mais leve no contato do lápis com o papel; quase como a maneira automática que as palavras saem da nossa boca numa sessão de análise ou numa conversa de bar. O papel me ajuda a deixar o raciocínio fluído, enquanto a tela em branco do computador me trava. Mesmo assim, escrever à mão não foi a minha primeira opção porque eu estava preocupada com a quantidade de tempo que essa escrita poderia levar, sem me dar conta que eu estava mais parada olhando para a tela do que produzindo de fato. Para mim, o computador funciona como algo que já deveria estar finalizado, então procuro a palavra perfeita e formulo as frases como se elas fossem absolutas. É um processo maçante, principalmente para quem, como eu, gosta de aproveitar o caminho. Tem que sentir o vento bater no rosto, reparar em quem está vindo do lado, registrar mais histórias para contar. O papel me permite essa irregularidade que eu sempre busquei na vida. E de tão livre, é espontâneo. A essa altura você já deve ter percebido que eu tenho um pacto com a minha liberdade. 

 

 

A vontade de testar esse formato na produção do meu livro veio no caminho de volta para casa depois de assistir ao filme O quarto ao lado, de Almodóvar. Isso está longe de ser um spoiler, mas as duas protagonistas são jornalistas e uma delas escritora. Foi impossível não me identificar com elas. Me enxerguei ali na tela, mas ao longo da história percebi que elas guardavam suas memórias da profissão em cadernos escritos à mão. Era tanto material interessante que tudo poderia virar um livro depois. Bingo! Deitada na cama, sim, deitada, eu escrevi uma das partes que considero mais importante da narrativa que estou construindo. Eu tinha a deixado por último porque coloquei tanta pressão para esse momento, que travei; e o papel me destravou. Foi ali que decidi que todo o resto também seria assim. Em dois meses eu escrevi mais páginas do que eu tinha escrito em 1 ano. Vejo o contato com o papel como uma conexão especial e única. Tem sentimento, não é robótico. 

 

 

Indiretamente tudo caminhava para essa solução, já que eu tenho uma coleção de cadernos. Cada um tem a sua função: um para escrever as memórias das viagens; outro para guardar as reflexões do meu dia a dia (vai que depois pode render outro livro ou um texto para a minha newsletter, a “Vamos falar de amor?”); aí tem o que anoto diariamente 3 coisas que me fizeram feliz naquele dia; e, finalmente, esse que eu comprei para registrar as ideias para o livro. Agora ele é o meu manuscrito. 

 

 

Tem rabisco, datas dos pensamentos, ideias para os próximos capítulos e o texto original. É lindo. Carrego para todos os lugares como quem carrega algo muito valioso - e ele é. Nesse processo encontrei o equilíbrio perfeito para entregar o melhor que posso: o caderno que me dá asas; o computador que me ajuda a finalizar o voo. 

 

Quando chegar a hora, aguardo vocês na livraria!

 

Descubra o Mission Notebook.



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